Sentar, respirar, estar presente…

“Sentar, respirar e apenas estar presente”…
Lemos isto em vários sítios, e eu própria faço partilhas com esta mensagem. Mas nem sempre é assim tão fácil, não é?!
Por vezes gostaríamos de seguir uma meditação guiada e os nossos pensamentos não deixam. Há alguns dias em que o turbilhão da mente e do corpo não nos deixam simplesmente sentir a respiração. Há vidas preenchida por trabalho, tarefas, coisas que gostamos de fazer por prazer, e tudo isso ocupa o nosso tempo. Há fases da vida em que até podemos querer, mas por alguma razão (por estarmos zangados, tristes, agitados) não conseguimos.
Há dias e dias…
Eu pratico meditação há cerca de 10 anos. Se é sempre “fácil”? Não. Há dias em que sinto aquilo que descrevi acima. Aprendi que forçar pode levar a frustração e a mais tensão, e o efeito daquele momento acaba por ser o contrário ao que desejamos.
A minha visão (tão válida como qualquer outra) é que há várias formas de chegarmos ao estado meditativo, sem ser preciso estar em posição de lótus, em silêncio, sem estarmos a seguir as palavras de uma meditação guiada que se calhar num outro dia nos abre as portas da alma, mas naquele dia até nem estamos capazes de prestar a devida atenção. Há também várias formas de estar presente, seja sozinhos em casa, ou com amigos numa esplanada; não precisamos de estar sempre envolvidos em ambientes “zen”.
Nesta sociedade feita de pressa, de tarefas, de corpos sempre em movimento e mentes agitadas, é muitas vezes difícil uma pessoa parar, mesmo quando quer. Isto leva a que muitos de nós, depois de umas tentativas “falhadas”, desistamos de voltar a tentar, e inclusive podemos pensar que é demasiado difícil, utópico para quem tem ainda uma rotina preenchida a completar. Não é… Não tem de ser. Existem ferramentas que são uma oportunidade para usar a nossa energia de forma criativa, e quando o corpo nos disser para parar, então paramos, respiramos, e aquele momento de acalmia que procurámos surgirá. E se não for hoje, está tudo bem, amanhã é outro dia.
Procurando estratégias
Lembrei-me de escrever sobre isto porque há pouco tempo tive um momento assim… Preparei o meu ambiente e sentei-me a respirar, mas os pensamentos atropelavam-se, a respiração só se agitava cada vez mais, e a tentativa de me trazer para o momento começou a parecer inútil. Aprendi ao longos do anos que não posso forçar, porque isso normalmente leva a que eu fique mais irritada e frustrada. Em certos dias, dependendo do meu humor, até consigo rir-me com isto, o que é melhor de ficar zangada ou desiludida comigo. Aprendi a viver estes momentos com uma certa leveza. Em vez de ficar de “braços cruzados” à espera do “momento certo”, forçando ou adiando, e procurei maneiras positivas de ultrapassar estes momentos e conseguir conectar-me comigo de igual forma.
Desta última vez, quando percebi que a acalmia estava difícil de chegar, tomei consciência que sentia dentro de mim uma espécie de corrente de energia que não me ia deixar sossegar assim tão facilmente. E senti o que devia fazer: mexer o corpo. Pus música a tocar e simplesmente mexi-me, dancei, saltei… A energia que eu sentia em excesso começou a viajar pelo meu corpo, até que se começou a libertar. Eu senti-me unida à música, ao meu corpo, à alma dançante e criativa que existe em mim. Estive assim por tempo indefinido; foi até sentir que era momento de parar. E, aí sim, fiquei uns largos momentos sentada e em silêncio.
Dedicação, sim; mas não ao ponto da tensão
Também não precisa de ser uma hora, nem meia; dez minutos já fazem a diferença. E não precisamos de começar com aquilo que lemos que é a meditação; podemos começar com exercícios simples de mindfulness, nem que seja durante uma refeição: prestar atenção apenas aos alimentos, o sabor, o cheiro, a textura.
Por exemplo, as meditações que partilho com vocês não têm de ser seguidas à risca, já disse isto… nem eu as sigo sempre à risca. Gosto de pensar nelas como fios condutores. Há dias em que poderá fazer sentido seguirem-nas totalmente, outros não, ou até nunca se identificarem.
Procurem o que for melhor para vocês, experimentem várias coisas, e vejam o que faz sentido. Encontrarão, de certeza, aquilo com que se identificam mais, que pode não ser o mesmo para outras pessoas. E todos evoluímos; o que hoje não faz sentido, poderá fazer mais tarde.
Claro que não podemos esperar que no início a acalmia chegue como que por milagre, e o mesmo para quando ficamos muito tempo sem praticar. Passamos uma vida a correr, a ser bombardeados por estímulos de todos os tipos, com o cérebro em constante movimento… é normal que não aconteça esta mudança de um dia para o outro. Por isso eu gosto de meditar diariamente, nem que sejam apenas 10 minutos. Posso dizer que, mesmo assim, apesar de se tornar mais natural, continua a ser diferente todos os dias, e há alturas em que sinto maior resistência.
E não nos comparemos com os outros, porque isto é, na minha opinião, algo muito pessoal. Cada um tem as suas dificuldades, os seus momentos, o seu processo.
Não precisamos complicar:
Para isso, já nos chega a nossa vida diária, que tem as suas complicações muito próprias. A meditação deve ser liberdade, não causadora de descontentamento. Nestas coisas não vejo o caminho certo nem errado, ninguém melhor ou pior, vejo diferentes seres que evoluem, umas vezes no mesmo caminho, outras vezes em caminhos próximos, e outras ainda em caminhos que são distintos.
Lembremo-nos que nada é perfeito e tudo exige dedicação, e, como dizem por aí, “até a lua tem as suas diferentes fases” (e sim, apesar de escrever isto tudo e ser a minha opinião sincera, que sinto mesmo de coração, tenho dias em que o mau feitio consegue ser mais forte, em que também me chateio, e que também tenho de me lembrar destas coisas).
Há dias perguntei no Instragram que temas gostariam de ver aqui, e este post serve de introdução a um dos temas mais pedidos: estratégias que utilizo para me conectar comigo, que irei desenvolver.
E vocês, o que pensam sobre isto? Passam ou passaram alguma vez por estas situações de frustração? Ou sentem isto com certa leveza e aceitação?
Uma linda semana para vocês ?♀️ ?


4 Comments
patricia zen
Acho que nunca stressei comigo por nao conseguir fazer as coisas de maneira XPTO porque eu conheco-me bem MAS já me senti “diminuida” por achar que os outros fazem assim e assado e eu não e por isso se calhar não sei e nao sei quantos…. Ou seja há certos assuntos em que penso que não devo estar”no ponto” porque não faço as coisas de determinada forma como os outros mas isso não é correto. Tu meditas a dançar, eu canto, a outra faz festas ao cão… cada um de nós tem as suas particularidades e o seu jeito e é isso que faz com que tudo seja mais interessante! obrigada Joana por esta reflexão, adorei!
PS: eu quando digo cantar é tipo opera chinesa, não é para me levarem a sério….
Joana
Já me ri com o teu comentário por causa do final ? Percebo bem o que dizes. Acredito mesmo que cada um de nós tem o seu processo, tal como em tudo no desenvolvimento pessoal e/ou espiritual. Há coisas que são transversais, mas no fundo vejo-as como orientações. Ninguém é dono da verdade absoluta. Por vezes também sinto isso que de que falar, mas depois penso que estou a ser tonta e sigo o meu caminho. Obrigada pelo teu contributo ?
Laura
Querida, como me ri e RECONHECI ao ler o teu post… adoro dançar e tantas vezes utilizo essa TÉCNICA para sossegar os pensamentos 😉
na minha opinião meditar é viver o aqui e agora, é estar com atenção plena no momento presente… para isso é preciso parar? não! Para isso é preciso sentar na posição de lotus? Não! Esta é a minha miopia, e de certo tornou essa frustração de não conseguir sempre silenciar os pensamentos mais leve 🙂
há dias em que medito em silencio na posição de lotus, mas também há dias em que medito a dançar e em movimento.
Um grande beijinho
Joana
É mesmo isso, querida Laura. Achei importante trazer este assunto para aqui para que esta ideia chegue a mais pessoas. Ainda dou por mim a falar em meditação e ter pessoas que automaticamente me dizem que não conseguiriam nunca, porque acham que a meditação é apenas isso, estar sentado na posição de lotus e entoar o mantra Om, quando há tanta coisa a dizer sobre a meditação. Grata pela tua partilha. Também me fez sorrir 😀 Um beijinho grande