
Corre, corre, com pressa para todo o lado
Uma das coisas que menos gosto é a sensação de me atrasar e ter de correr para chegar ao destino. Não sou dada a “molenguices”, mas também não gosto de andar a correr contra o tempo e fazer as coisas à pressa. Procuro um equilíbrio. Gosto de ter tempo para tudo, e todos nós sabemos que não conseguimos controlar a forma como o dia se desenrola, porque estes imprevistos podem surgir em qualquer altura.
Era das primeiras pessoas a chegar à faculdade… Acordava cedo, tomava o pequeno-almoço, e punha-me a caminho do metro. Fazia aquele caminho a pé, muitas vezes como se fosse um passeio, e o mesmo quando saía do metro até chegar à faculdade, sempre de headphones nos ouvidos e música a acompanhar os meus passos. Chegando lá, sentava-me na esplanada do bar a beber o meu café, e esperava que chegassem os meus amigos e a hora de ir para as aulas (bolas… Estou com saudades disto!).

Nós muitas vezes vivemos com pressa…
Pressa para chegar, pressa para ir embora, nem aproveitamos o tempo em que ficamos. Há momentos que parece que temos os minutos contados, e nem uma respiração mais podemos completar sem já estarmos com o pé fora daquela porta. O café bebe-se ainda a ferver, não porque seja preferível, mas porque não há tempo para arrefecer. A refeição come-se sem saborear para não perder muito tempo. As conversas muitas vezes são cortadas com “falamos depois, estou com um bocadinho de pressa”.
Sempre sonhei viver mais perto do campo porque as cidades puxam por este ritmo mais acelerado, de correria, de pouca a atenção às pessoas que passam, ao que se acontece à nossa volta, àqueles detalhes que tornam o mundo um lugar mais mágico e especial, e que até podiam melhorar o nosso dia. Sim, porque até nesta mistura de prédios e estradas, carros tão apressados como os peões, também se encontram alegrias no caminho.
Claro que é sempre melhor uma estrada ladeada por floresta do que rodeada de cimento…
A primeira até convida ao passo mais lento e ao sorriso nos lábios. Mas muitos de nós vivemos e fazemos as nossas vidas em cidades, onde parece mais difícil manter aquele estado de tranquilidade. Felizmente na zona onde eu moro já se encontram jardins, paraísos perdidos no meio dos tons monocromáticos, onde podemos escapar por uns instantes, nem que seja a caminho do próximo local onde temos de estar, ou ao bebermos o tal “café a ferver” que eu falo acima.
Sendo difícil, não é impossível encontrar pequenas coisas que podem iluminar os nossos dias rápidos e cinzentos: uma flor que nasce no meio da calçada, o arco-íris no céu atrás dos prédios, um grupo de cães que brinca, a decoração de uma loja, um prédio bonito e diferente dos demais à sua volta, uma criança que se senta à vossa frente nos transportes e faz com que vocês oiçam o seu “atarefado e complicado” dia enquanto o conta aos pais, ou até o sorriso sincero de alguém que vocês cumprimentam na rua.
Quando fiz Erasmus em Bruxelas (sim, uma cidade cheia de movimento e pessoas com pressa), talvez por ser um país que não era o meu mas no qual eu ia viver por uns meses, reparei muito nestas pequenas coisas na rua, nos transportes, nos locais que visitava. Acho que morar num país estrangeiro que nunca tinha visitado antes me fez observar mais em pormenor aquilo que se passava à minha volta. Foi uma aprendizagem que trouxe comigo e que, quase sem notar, comecei a aplicar no dia-a-dia. Além disso, apesar de sempre ter dito contacto com a língua por ter família na Bélgica e em França, na altura estava já um pouco enferrujada, e nos primeiros tempos tinha de prestar muita atenção para conseguir manter um diálogo mais fluído. Não por querer ouvir as conversas alheias, mas para aprender a desenrascar-me melhor na língua, por vezes procurava decifrar as conversas que se faziam ouvir à minha volta.
Como eu gosto de caminhar sem pressa…
… de encontrar estes pequenos pormenores que muitas vezes “faltam” no quotidiano, e gostava que fosse possível para todos nós fazermos isto mais vezes. Aproveito quando consigo, no meio de passos mais calmos e outros mais acelerados quando tem de ser.
E tu, como vives esta pressa e esta atenção ao que está à tua volta?


4 Comments
André Moreira
Sinto-me igual. Hehe
Já no secundário eu ia mais cedo para me sentar a tomar algo e ler um jornal ou revista. As vezes só a observar as pessoas na rua.
Obrigado pela partilha!
Joana
Obrigada eu. Esses momentos tão simples são tão importantes!
Patricia Zen
Como te compreendo! Se pudesse “fugia” para o campo. O facto de vivermos em piloto automatico desliga-nos de coisas tão importantes como a intuição ou escutar o coracao. Cá por mim, que detesto andar à pressa – mas também nunca chego atrasada eheh – vao-se mudando alguns hábitos, devagar, O Suficiente para ir reparando em coisas que sempre ali estiveram mas que eu nunca vi com olhos de ver. Obrigada por esta reflexao,
Joana
Essas pequenas mudanças acabam por fazer uma bela diferença. Obrigada pela tua partilha.