
Deméter: Mãe Nutridora e Mãe Destruidora
Deusas de Luz e Sombra
Existem deusas que associamos facilmente às sombras, à escuridão, e vemos como representantes do nosso “lado escuro”. É fácil fazermos essas associações, atribuirmos características negativas às deusas escuras, aquelas que estão mais ligadas ao Submundo, e a aspectos como a destruição, a sensualidade, o prazer. Dentro delas temos, por exemplo, Kali, Hécate, Lilith, Cerridwen, e tantas outras.
Contudo, mesmo aquelas deusas que não costumam ser incluídas neste grupo podem representar aspectos menos agradáveis de nós. A Deusa, nas suas mais variadas faces e representações, contém luz e sombra.
Deméter e o Arquétipo da Mãe
Dou como exemplo Deméter, associada ao arquétipo da Mãe.
Ela representa o arquétipo da Mãe Nutridora pela sua relação próxima com Coré/Perséfone. A Mãe Nutridora gosta de tudo o que está relacionado com maternidade, dar colo, nutrir física e emocionalmente.
Mas a Mãe Nutridora também tem um lado menos bom: quando só dá aos outros e se esquece de si, é mãe de todos e coloca-se em segundo plano. Existe um impulso muito forte para cuidar dos outros (sejam seus filhos ou não; esta Mãe cuida de toda a gente) e autocuidado é descurado.
Isto pode levar:
- Por um lado, à exaustão, por razões óbvias: se só damos sem nos cuidarmos, não recuperamos energia física e emocional. Se damos o que temos e o que não temos não é saudável. Há imensos alertas sobre o quão importante é o autocuidado e não é por acaso. Ajudar-nos a manter-nos sãos.
- Por outro lado, à cobrança, ao exigir do Outro (mesmo que inconscientemente) a mesma atenção e que este dê em igual medida. Começam, por vezes, as discussões e em alguns casos a vitimização, mas na verdade se uma pessoa dá de uma maneira que não é saudável, se calhar os outros não dão igual porque não conseguem, não conseguem “acompanhar”.
Claro que cada caso é um caso, mas quando sentimos que estamos a “dar demais” em comparação com aquilo que recebemos, é importante reflectirmos sobre isto.
Além disso, o arquétipo da Mãe Destruidora pode ser percebido quando Deméter deixa a terra infértil por se ver separada da sua filha quando esta se encontra no Submundo. Este aspecto está presente em algumas situações, como por exemplo a síndrome do ninho vazio, quando os filhos saem de casa pela primeira vez e os pais ficam “perdidos” sem ter os filhos em casa.
Em certas situações chega a ser difícil aceitar que o filho (ou outra pessoa; isto acontece em todas as relações, familiares ou de amizade) tem de viver a sua vida separadamente, existindo uma relação de dependência por parte da “Mãe”, ao mesmo tempo que tenta controlar o outro. Considera, até, o outro ingrato, podendo aqui também entrar no papel de vítima, e não aceita que o Outro tenha autonomia.
No próximo artigo irei falar um pouco mais sobre este assunto e explorar o que podemos fazer para cuidar da nossa Deméter (ou Mãe) interior.
Espero que gostes. Diz-me o que pensas.
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