Deusas e Arquétipos – Trabalho Simbólico
No trabalho com as deusas, ao conhecermos os mitos e características das mesmas e os arquétipos que elas representam, conseguimos perceber quais influenciam mais fortemente cada área da nossa vida, desde a forma como lidamos com situações mais fortes emocionalmente até à maneira como preparamos uma refeição.
Von Franz dá um exemplo bastante directo sobre a questão da interpretação dos arquétipos, neste caso relacionado com os sonhos:
“Se um indivíduo tem uma experiência arquetípica, por exemplo, um sonho confuso de uma águia entrando através da janela, isto não é somente um “modelo de pensamento” sobre o qual pode-se dizer: “Oh! sim, a águia é um mensageiro de Deus, e era um dos mensageiros de Zeus e de Júpiter, e na mitologia norte-americana a águia aparece como um criador etc.”. Fazer isto é intelectualmente bastante correto, pois amplia o arquétipo, mas também negligencia toda a experiência emocional.”
Mitologia como metáfora
Quando falamos de uma determinada deusa e dos seus mitos e energias, não significa que nós a “incorporamos” e nos transformamos nela ou que ela tem poder sobre o nosso corpo ou mente. Nem tão pouco qualquer elemento simbólico dessa deusa deverá ser interpretado de forma genérica e “à letra”.
Eu não sou a deusa XYZ; eu trago os seus ensinamentos para o meu dia-a-dia, como um guia que me orienta, e procuro ver as situações através dos seus olhos, na medida que ela representa uma determinada situação que podemos considerar arquetípica por ser uma experiência de vida pela qual todos os seres humanos passam.
Trabalhar com as divindades
Para trabalharmos a energia das deusas, precisamos conhecê-las minimamente para saber o seu mito, a sua relação com os outros deuses, o seu propósito ou até os elementos que as representam.
Não menos importante que isso, é importante perceber o contexto histórico-cultural no qual essa divindade “nasceu”, porque os seus mitos e as aprendizagens delas retiradas também estão relacionadas com isso (aquilo que hoje em dia é absurdo ou considerado violento podia ser usual na altura em que os mitos foram contados pela primeira vez).
É, portanto, sempre, um trabalho de estudo teórico mas também de integração de aprendizagens, práticas, de acordo com as nossas experiências emocionais pessoais.
Texto colaborativo com a terapeuta Patrícia Gomes (www.nemsemprezen.pt)
Imagem: Arte de Emily Balivet
Bibliografia
Jung, Carl. (2016). O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro: Harper Collins Brasil
Von Franz, M. (1990). A Interpretação dos Contos de Fada. São Paulo: Editora Paulus. Coleção Amor e Psique